Nunca se falou tanto sobre saúde mental nas empresas como nos tempos atuais. E isso se tornou ainda mais evidente após o inicio do período pandêmico, no qual seguimos vivendo. 

Essa mudança radical que passamos em decorrência do novo coronavírus alteraram de maneira significativa o ambiente de negócios, e com isso, as incertezas dentro desse período abalaram profundamente o estado mental de grande parte dos brasileiros, afetando a saúde mental de todos.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país que apresenta maior índice de depressão na América Latina. Além de também ser o país mais ansioso do mundo. Para se ter uma ideia, uma pesquisa realizada pela consultoria Falconi,  aponta que 37% das companhias registraram aumento de doenças psiquiátricas como depressão, síndrome de burnout e distúrbios emocionais durante o último ano.

E apesar desse cenário alarmante, ainda vemos poucas pesquisas mais profundas que relacionam a saúde mental ao empreendedorismo, e encontramos ainda menos empreendedores se posicionando em relação a este tema. 

Com esse artigo queremos abrir espaço para que essa conversa também seja uma pauta entre os empreendedores e que possamos ter um olhar mais cuidadoso sobre o assunto. Agora chegou a vez dos líderes e CEOs mostrarem que não são super-heróis e que também se sentem vulneráveis. 

A nova era pós pandemia

Se 41% dos brasileiros já relatavam sintomas como ansiedade, insônia ou depressão por consequência da pandemia em março de 2020, hoje mais da metade da população (53%) afirma que seu bem-estar mental piorou no último ano, segundo artigo recentemente divulgado pelo Estadão, 2021.  

Sabemos que os empreendedores são um dos públicos mais atingidos por esse problema. Até porque esse universo do empreendedor pode ser muito solitário e cheio de incertezas, gerando ansiedade e angústia para esse público.

Os novos CEOs e profissionais que ocupam cargos estratégicos de liderança, são vistos como inabaláveis de forma recorrente mas também sofrem com angústia, ansiedade e depressão.

Por isso, é extremamente importante que esse estereótipo de CEO super herói seja desconstruído. 

Na vida do empreendedor, esbarramos em várias decisões difíceis de serem tomadas, além de situações que podem afetar seu psicológico como: perda de clientes, concorrência, resultados abaixo do esperado, disputas com parceiros, cobranças de investidores, entre muitos outros. 

Perder o sono por conta de alguns desses problemas, não é incomum no ambiente corporativo. Assim, empreender pode se tornar algo bastante estressante e com grandes cargas emocionais para quem se arrisca nesse mundo, por isso é imprescindível estar atento aos sinais. 

E quais as características do CEO “herói”?

Não é difícil encontrarmos líderes que centralizam decisões, que demonstram não precisar de ajuda ou descanso e acabam focando em resolver todas as demandas que aparecem. Esse é um comportamento nato do famoso líder herói.

Apesar do nome “grandioso”, o líder herói não se permite ser uma pessoa real, enfrentando seus desafios e mostrando por muitas vezes sua vulnerabilidade, principalmente relacionada a sua saúde mental. Ele tenta e se esforça para ser a salvação do time, mas obviamente não consegue. Ainda que sua intenção seja boa, ele acaba se prendendo em rotinas, comportamentos e segue direcionamentos que não são bons para ele e consequentemente para o time. 

Lidar com prazos apertados, reuniões extensas e de última hora, são alguns dos pontos comuns dentro da rotina desse líder, que por sua vez, precisa lidar com essas situações e em sua maioria, acabam desenvolvendo hábitos completamente danosos para a saúde. 

O líder herói pode também ser conhecido como centralizador e algumas características claras que podemos perceber neste tipo de liderança são: microgerenciamento, dificuldade em aceitar erros, pouco gerenciamento e domínio sobre suas emoções fazendo com que exploda facilmente, além de sempre demonstrar ter todas as respostas.

Quando essas ações permeiam a rotina de trabalho, podemos encontrar grandes empecilhos principalmente a saúde do líder que claramente se sobrecarrega, impactando consequentemente o desenvolvimento do time,  e claro, influenciando para o sucesso dos negócios.  

Sinais de alerta 

Os sinais surgem de forma sutil e por muitas vezes são “deixados de lado” dentro de uma rotina cheia de compromissos, mas é preciso ficar atento a forma como o corpo nos avisa. 

A exaustão e estresse em excesso podem indicar a síndrome de burnout. Que entendemos como o estado de esgotamento e é uma grande porta para problemas psicológicos ainda maiores. 

Para o Ministério da Saúde, a síndrome de burnout é um distúrbio emocional provocado justamente pelo excesso de trabalho, principalmente em ambientes desgastantes, muito competitivos ou que demandem grandes níveis de responsabilidade.

A síndrome de burnout costuma ter três principais características: exaustão, menor identificação com o trabalho e sensação de redução da capacidade profissional. Em resumo, se você está se sentindo exausto, incapaz e não está satisfeito com o que faz, isso pode ser um alerta vermelho: é preciso procurar ajuda.

Com base na classificação realizada pelo Ministério da Saúde os principais sintomas da síndrome de burnout são:

  • Cansaço excessivo, físico e mental;
  • Dor de cabeça frequente;
  • Alterações no apetite;
  • Insônia;
  • Dificuldades de concentração;
  • Sentimentos de fracasso e insegurança;
  • Negatividade constante;
  • Sentimentos de incompetência;
  • Alterações repentinas de humor, entre outros. 

O estresse que provoca a síndrome pode estar diretamente relacionado ao seu trabalho, mas outros traços de personalidade ou estilo de vida podem contribuir. Perfeccionismo e pessimismo, por exemplo, podem agravar o quadro.

Como lidar com as emoções? 

Por muitas vezes, identificar o problema não é fácil. Na vida de um empreendedor, tomar a decisão de “reduzir a velocidade”, é um caminho difícil mas necessário.  Destacamos abaixo 3 dicas para te ajudar nesse processo e abrir espaço para que essas pautas sejam refletidas: 

  • Mantenha vínculos sociais

Cuidado, não estamos falando de networking! A proposta aqui é que você mantenha contato com pessoas para além dos assuntos de trabalho, isso é essencial quando se deseja alimentar as sensações de bem-estar e produtividade.

Essas conexões com pessoas queridas aumentam a felicidade e afastam os sentimentos de solidão, além de diminuir significativamente as possibilidades de ser afetado pela depressão. 

  • Olhe para você

Promova o autocuidado e esqueça a velha desculpa do “eu trabalho demais, não tenho tempo para isso!”. É importante encontrarmos momentos para nós e colocarmos como parte da rotina. 

Reflita sobre seus hobbies, reserve um momento para investir  tempo de qualidade em algo que te traga satisfação.  Dê atenção às coisas que trazem prazer fora do trabalho e considere esses espaços de lazer tão importantes quanto às obrigações da empresa.

  • Busque o autoconhecimento

Apesar de colocarmos esse tópico por último, ele é a principal estratégia de quem busca cuidar da sua saúde mental e ter maior controle das emoções. Investir tempo em um processo de terapia pode ser um grande aliado do empreendedor, visando desenvolver a capacidade de administrar crises e solucionar problemas com mais assertividade.

Conclusão

Esse assunto é vasto e de extrema importância. Não podemos negligenciar nossa saúde em geral e para ter um negócio de sucesso, a saúde mental é essencial. Entre tantos desafios e incertezas da vida de empreendedor, também existem benefícios que não podem se perder no meio do caminho. Para isso, é preciso saber administrar os sentimentos de forma consciente, para entender como eles afetam sua rotina e o que pode ser feito para evitar ou excluir as interferências negativas.


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