Quando fui CFO na HeroSpark (que na época ainda se chamava EADbox), pude perceber o quanto a educação faz a diferença na vida das pessoas. Hoje, a HeroSpark é uma das principais edtechs (startups de educação) do país. Educando milhões de pessoas através da sua plataforma que se diferencia das demais pelo altíssimo nível de engajamento e experiência dos alunos. Mas, então porque não temos universidades mais inovadoras no Brasil?
Acredito que existem duas coisas que juntas podem mudar o futuro do Brasil: educação e empreendedorismo.
Que combo, não?! Quando olhamos especialmente para as IES (instituições de ensino superior), ainda estamos muito atrasados. Depois de colocar o ‘get out of the building’ em prática. Pesquisar e conversar com muitos influenciadores e decisores desses setores nos últimos 12 meses, vamos tentar responder a pergunta: porquê não temos universidades mais inovadoras no Brasil?
Motivo 1: Regulamentações Públicas Causam Efeito Contrário
Quando o incentivo é focado em publicação, artigos, apresentações em eventos nacionais e internacionais, a inovação é deixada de lado. Afinal, nada disso precisa ser aplicado, é teoria e pesquisa.
A pesquisa pura tem sua importância, mas é só bater olho nos números para ver o quanto estamos atrasados em pesquisa aplicada. Além disso, o processo de patente é moroso e desincentiva o desenvolvimento econômico via propriedade intelectual. Semana passada conversei com um empreendedor que entrou com pedido de patente do seu bioproduto em 2013 e conseguiu o resultado somente em 2019.
Motivo 2: Falta de Cultura
Enquanto Europa, EUA, China e os principais países do mundo formam a décadas modelos de tríplice-hélice onde governo, empresas privadas e academia se juntam em projetos ambiciosos de inovação, no Brasil isso ainda é muito novo. Temos poucos exemplos desta prática.
Sabemos que há um abismo entre a academia e o mercado. Não temos universidades mais inovadoras no Brasil, pois poucos dão passos práticos em favor dessa aproximação. A velocidade e comunicação de empresas privadas e universidades são muito diferentes. Infelizmente, hoje poucos fazem esse meio de campo.
Motivo 3: Medo de Inovar
Nos últimos 12 meses conseguimos entrevistar inúmeras pessoas em posições chaves de decisão em grupos educacionais, universidades públicas e privadas. Os desafios para inovar variam dependendo da região e setor específico. Porém uma resposta foi unânime: o professor é a principal barreira para a inovação.
Ao aprofundar mais nisso, descobrimos que não é só culpa dos professores, uma vez que aqueles que se arriscam em favor da inovação e empreendedorismo nas universidades muitas vezes são desincentivados. Não há reconhecimento e, aparentemente, o interesse estratégico não é convertido em prática pelas lideranças. O quadro todo forma um ciclo destrutivo, desfavorável à inovação.
Motivo 4: Falta de Urgência
Todos os decisores que entrevistamos concordaram que uma universidade mais inovadora é muito importante. Entretanto, nada disso não vira prática porque algumas características do mercado fazem com que o futuro de uma universidade esteja mais “protegido”.
Alguns cursos como os relacionados à computação, tem sofrido dificuldades com o surgimento pulverizado de soluções alternativas como as escolas de programação. Outros, porém, como direito e contabilidade, possuem regulamentações que impedem a disrupção alternativa. Tal caraterística também contribui para que a alta liderança das universidades não se preocupe tanto com edtechs. E o que tem vindo por aí no pipeline de inovação em educação).
Não há muito diálogo acontecendo entre as edtechs e os decisores nas universidades, o que acaba sendo incrivelmente ruim para os dois lados.
Motivo 5: Mercado em Desequilíbrio
Ao passo que o Brasil tem visto de camarote universidades privadas entrando em processo de falência, grandes grupos fazendo aquisições, “comoditização” da educação e ampliação do EAD (ensino à distância). Estas mesmas universidades privadas sabem que não vão sobreviver somente através da cobrança de mensalidades e receitas de programas governamentais. Já as universidades públicas sentiram despencar o orçamento federal e estadual de pesquisa. O que foi ruim, mas por outro lado tem incentivado as IES a se aproximarem de grandes empresas para colaboração.
De uma forma geral, as universidades parecem estar mais preocupadas em como estender sua sobrevivência (o que inclui como rodar o ensino híbrido da pós-pandemia que veio para ficar) do que em como inovar e se reinventar.
Potencial inovador inexplorado
O objetivo deste texto não é desmerecer o valor das nossas universidades, mas sugerir que atualmente existe um vazio quando o assunto é universidade inovadora e Educação 4.0 no Brasil. Ao mesmo tempo, há um potencial imenso inexplorado. Só na Inglaterra podemos ver dois exemplos.
A Universidade de Oxford investe, através do fundo Oxford Seed Fund, em startups de seu campus que vibra com o empreendedorismo e a inovação. Já a Universidade de Manchester, local onde cientistas isolaram o grafeno pela primeira vez em 2004, atualmente é peça-chave no desenvolvimento de spin-offs. Colaborando com empresas do mundo todo, no que hoje é conhecida como a Cidade do Grafeno.
Como Bluefields, temos participado de alguns casos Brasil afora onde tudo isso começa a acontecer. Mas quando será que vamos começar a ver um movimento massivo com grandes iniciativas de tríplice hélice, startups/spin-offs e pesquisa aplicada em prol da sociedade nas nossas universidades brasileiras? Qual a sua sugestão para superar estes nossos desafios? Como nós podemos cooperar para um Brasil mais inovador através da educação?