Mesmo com 2020 sem muitas boas notícias comparado às ruins, existe atualmente um alvoroço no ecossistema brasileiro de startups quando o assunto é investimento. Vários reports do ramo concluíram que houve aumento de investimentos em startups em 2020. Isso não soa estranho?! Talvez esteja assim devido a aceleração do digital durante a pandemia?

Inúmeros artigos, matérias e estudos como alguns listados AQUI apontam números sem precedentes de fundos e empresas brasileiros investindo pesado em startups – em plena pandemia, causa de tanta incerteza econômica.

A ideia deste texto não é desanimar nem jogar ducha de água fria em ninguém, mas aprendi este princípio muito interessante lendo um livro de uma família que admiro que diz mais ou menos assim: “não é bom se iludir com fases muito positivas nem se assustar demais com as crises”. Aliás, vale a pena ler este livro AQUI que conta a jornada empreendedora da segunda geração dessa que é uma das principais empresas familiares do país.

Então agora vamos aos motivos pra gente não se iludir com o presente sensacionalismo midiático relacionado aumento de investimentos em startups no Brasil.

4 pontos desfavoráveis sobre o aumento de investimentos e startups em 2020/21

1. Fundos de Venture Capital já estavam capitalizados

Aqui na Bluefields Aceleradora, o relacionamento com fundos é muito importante e por terem muita inteligência de mercado, nós somos falar com eles assim que estourou a pandemia. O padrão das análises que a gente ouviu era: “vamos fazer um follow-up (investir novamente em startups do portfólio) em algumas startups com mais dificuldade de se reinventar e concluir as rodadas em andamento, incrementando nossa análise ao selecionar startups com modelo de negócio resilientes, ou seja, com mais chances de atravessarem crises”. Como a maioria dos fundos já tinham captado, isso ajuda a explicar que, boa parte do movimento atual de mercado não é dinheiro novo no mercado, mas dinheiro que já estava sob controle desses fundos antes da pandemia.

queda do capital de risco mundial mesmo em meio ao aumento de investimentos em startups nacionais/bluefields aceleradora

“Preparando para o impacto: queda do capital de risco na América do Norte, Ásia e Europa” (Tradução Livre) / Global Innovation Index 2020

2. VCs na Europa, EUA e Ásia foram impactados e reduziram do apetite por investimento em startups

Venture Capital no Brasil representa cerca de 0.2% do PIB, sendo que Índia 1%, China e Israel 2%, EUA 1.5%. Ou seja, relativamente ao potencial econômico, ainda estamos muito atrás. Isso quer dizer que quando olhamos para o que acontece em ecossistemas de startups mais desenvolvidos, conseguimos prever tendências que vão acontecer ou com grandes chances de acontecer por aqui. Essas quedas bruscas (veja figura acima retirada do Global Innovation Index 2020) revelam uma preferência econômica por poupar e reduzir investimentos de alto risco durante crises globais. Portanto, é provável que fundos brasileiros sofram muito quando forem ao mercado para novas rodadas de captação, mesmo considerando o maior apetite ao risco frente a taxa de juros reduzida. Em outras palavras, seria até mais esperado desacelerar o investimento em startups no Brasil durante o primeiro semestre de 2021 para níveis anteriores à 2020 do que seguir aumentando.

3. Startups sem poder de barganha para investimento

O que tem acontecido atualmente é o mesmo fenômeno que já vimos diversas vezes no mercado imobiliário: se sua casa está com risco de desabar e um comprador faz uma proposta ruim, uma vez que é improvável você conseguir outra proposta antes da casa cair, você não venderia? A verdade é que muitas startups estão em liquidação, ninguém tem caixa para aguentar por tanto tempo assim, até mesmo scale-ups. Isso também ajuda a explicar pelo menos uma boa parte dos tais recordes de investimento – é tipo a Black Friday (ou Black Year) das startups, tem muito valuation com 50% off!

4. Investimento-anjo ainda é tímido no Brasil

Embora crescendo ano após ano, o investidor brasileiro ainda tem um perfil muito conservador. Startups brasileiras em estágios iniciais (early-stage) historicamente enfrentam muitas dificuldades para levantar capital. Nós não conseguimos saber o % exato, mas é possível ver que o aumento massivo de investimentos em startups desses últimos meses não provém de um forte conjunto de deals em empresas nos estágios iniciais mas sim na concentração de deals maiores, geralmente de M&A (merge & acquisition). O investimento-anjo tem que crescer muito ainda para ajudar nosso país a ser mais inovador, fomentando o apetite ao risco por parte dos empreendedores. No Vale do Silício por exemplo, também em outros ecossistemas mais desenvolvidos, se você tem um bom time e uma boa ideia que resolve um problema real, o % de você ficar sem dinheiro é muito baixo. E isso incentiva empreendedores a correrem mais riscos, o que é um princípio básico da economia: pessoas respondem a incentivos.

Se essa análise está pessimista, real ou otimista, só o tempo vai dizer – eu mesmo torço para que seja bem melhor. De uma forma ou de outra, são pontos importantes a serem considerados. E aí, qual sua opinião sobre o mercado de startups e venture capital para 2021? Escreve aí nos comentários e bora trocar ideia por aqui.


Paulo Humaitá
Paulo Humaitá

Curioso e eterno aprendiz. Casado com sua melhor amiga, doente pelo Coringão e admirado com o que dá para fazer com inovação. Acredita que empreender é a ciência de acreditar no que ainda não se vê.

Leave a Reply

Your email address will not be published.